Com o avançar do tempo, de acordo com várias pesquisas e avançados estudos sobre a multifatoriedade que interfere de alguma forma sobre a questão da dor crônica, é possível verificar que além de todo fator biológico, os fatores psicológicos (comportamentos, cognições, emoções) influenciam, interferem e até alteram a percepção e a vulnerabilidade em vivenciar a dor.
É importante relatar ainda, que o processo de dor crônica torna também o sujeito que a está vivenciando vulnerável em várias esferas tais como: mobilidade dificultada, alteração do sono, sistema imunológico deficiente, dificuldades na vida sexual, humor alterado, autoestima rebaixada e uma série de pensamentos negativos que são disfuncionais desencadeando e interferindo ainda mais todo o processo doloroso.
Outro fator extremamente importante é o da subjetividade. Cada indivíduo percebe e responde ao processo de dor de um jeito único. Sendo assim, a percepção e a subjetividade atrelada ainda aos aspectos emocionais interferem nos níveis de dor e até na sua evolução.
A Psicologia, em sua abordagem Cognitiva-Comportamental, vai tentar entender como o indivíduo assimila, percebe e responde a toda essa informação que processo de dor crônica o faz vivenciar.
E o que são as tais distorções cognitivas? Elas representam uma forma errada, disfuncional de processar uma informação, ou seja, fazemos interpretações erradas sobre o que ocorre ao nosso redor e conosco, gerando desta forma consequências negativas. Cada um a seu nível, uns mais outros menos, todos nós podemos, em algum momento da vida, apresentar alguma distorção cognitiva. Existem várias distorções cognitivas: personalização, filtro negativo, generalização, maximização e minimização, pensamento dicotômico, raciocínio emocional, rotulagem e a catastrofização, dentre outros. A catastrofização é a que mais ocorre quando se trada de dor crônica.
E a catastrofização, o que é? Segundo Knapp (2007), importante autor sobre Terapias Cognitivo-comportamentais, a catastrofizção refere-se a “pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em consideração a possibilidade de outros desfechos. Acreditar que o que aconteceu ou irá acontecer será terrível e insuportável. Eventos negativos que podem ocorrer são tratados como catástrofes intoleráveis, em vez de serem vistos em perspectiva”.
Como se pode perceber, o sujeito tende a catastrofizar a dor. Isso corre devido a um processo negativo de pensamento focado nas sensações excessivas de dor, onde o sujeito percebe-se incapaz de suportar a dor não sendo capaz de providenciar recursos e alternativas para minimizar a dor.
Diversos estudos no âmbito da dor crônica revelam várias informações importantes sobre as distorções cognitivas, especificamente as que trazem pensamentos catastróficos. Que tais pensamentos contribuem para o aumento da intensidade da dor. Afirmam também que a catastrofização se encontra diretamente associada à interferência da dor, intensidade e incapacidade que cada sujeito experimenta diante do processo de dor crônica. Concluem ainda que, intervir psicologicamente na dimensão das distorções cognitivas, em particular na catastrofização da dor (redução dos pensamentos catastróficos) melhora a condição física e o funcionamento psicológico, o que acarreta um melhor manejo da dor por parte do paciente.
Como podemos perceber através, pensamentos e emoções interferem diretamente em nosso organismo a ponto de alterar nossa percepção sobre a intensidade da dor. Sendo assim, o psicólogo, ao avaliar o paciente e perceber toda essa distorção cognitiva com os pensamentos catastróficos onde estes estão interferindo para a piora do seu processo de dor crônica, vai atuar realizando um processo de mudança cognitiva no sentido de trabalhar com o sujeito, levando em conta toda a subjetividade, uma forma de começar a enxergar a dor como uma condição em que pode controlar e manejar, e não como uma catástrofe incontrolável.
Sendo assim, o tratamento de forma interdisciplinar é primordial e indicador de sucesso no tratamento da dor crônica, onde os vários especialistas devem agir de forma integrada e complementar com o objetivo final na melhora e melhor qualidade de vida deste paciente.
Tatianna Rangel Coutinho
Psicóloga Cognitivo-Comporamental e pós-graduada em Psicologia Hospitalar.
Referencias de leitura: