Lidar com a dor crônica não é uma tarefa fácil. É um problema complexo que envolve e interfere em vários segmentos da vida do paciente levando-o a piorar ainda mais a percepção de dor. Desta forma, podemos perceber que a dor crônica é multidimensional, onde envolve a parte sensorial, emocional, cognitiva, comportamental, interpessoal, cultural e social. Fatores estes que acabam por colaborar ainda mais com a dor, podendo por vezes intensificá-la e interferir diretamente no seu diagnostico e em seu tratamento. Sendo assim, a grande problemática em questão é a de compreender as variações fisiológicas, emocionais, comportamentais, dentre outras atreladas a esse processo, assim também como os mecanismos psicológicos envolvidos em como o paciente maneja essa dor.
A vontade de não sentir mais a dor, de se livrar desse incomodo aparece e, por vezes, de forma até desesperadora. O paciente, na grande maioria das vezes, não consegue perceber a intensidade da dor e as respostas comportamentais que a dor provoca.
Cabe ao psicólogo acolher, esclarecer, no sentido que, em muitos dos casos, não será possível remover essa dor e auxiliar o paciente a enfrentar essa dor de forma ativa reconhecendo seu sofrimento.
A avaliação psicológica neste processo torna-se um fator chave. É através desta avaliação que o psicólogo pode identificar quadros psicológicos já estabelecidos ou, estabelecidos em conseqüência do quadro de dor e pode-se dizer com mais propriedade se estes são a causa, conseqüência ou comorbidades do quadro de dor. Aqui pode-se identificar também situações vividas pelo paciente que podem estar ligadas as oscilações do sintoma, se há a presença de estressores que acabam por engatilhar a dor dentre tantos outros fatores que podem estar interferindo em como o paciente percebe e lida com a dor.
Na grande maioria das vezes, o paciente, em meio a várias peregrinações frustrantes de se livrar com a dor, acaba por encontrar formas não tão adequadas de enfrentamento. Sendo assim, a função do profissional é a de identificar tais formas, padrões de enfrentamento e buscar junto ao paciente as melhores formas e estratégias psicológicas para enfrentar e lidar com a dor adequadas caso a caso.
Muitos pacientes, devido ao quadro de dor, desenvolvem quadros de tristeza, sinais de estresse e até ansiosos que podem acarretar síndromes e sintomas de transtornos ansiosos e até um quadro depressivo grave e, estes acabam por interferir ainda mais no quadro de dor, o que dificulta ainda mais o tratamento. Estes sintomas psicológicos citados tem sido reconhecidos como importantes aspectos moduladores da manifestação de síndromes dolorosas. E, não diferente, cabe aqui também ao profissional primeiramente identificar e ajudar o paciente a expressar seus sentimentos de forma a colaborar no seu tratamento para que possam ser ouvidos levando a possível elaboração de tais sentimentos.
O paciente de dor crônica devido a vários fatores isola-se em seu mundo devido a seu quadro de dor e também pelo quadro de tristeza que normalmente se instala. Sendo assim, é preciso trabalhar junto ao paciente uma forma dele não ficar inerte, somente em casa. É preciso e necessário adaptá-lo a novas formas de atividades, levando-o a superar sua limitações físicas e estruturar-se emocionalmente levando a uma aceitação e enfrentamento de seu quadro de forma ativa.
Tatianna Rangel Coutinho
Psicóloga Cognitivo-comporamental e pós-graduada em Psicologia Hospitalar.
FIGUEIRÓ, J A B; ANGELOTTI, G; PIMENTA, C A de M. Dor e Saúde Mental. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.
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RANGÉ, B. (org) Psicoterapias cognitivo-comportamentais. Um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed editora. 2001.